segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Plataformas se especializam em crowdfunding para nichos

Animais carentes, produções audiovisuais independentes e microempreendedores ganham a atenção do financiamento colaborativo

Desde que a palavra crowdfunding começou a ser usada com mais frequência para definir e identificar o financiamento coletivo, em 2006, o número de plataformas que auxiliam nesse tipo de investimento vem crescendo. O dinheiro investido, também. Segundo uma pesquisa realizada pela consultoria especializada em crowdsourcing Massolution, o volume de capital movimentado em todo o mundo em projetos de crowdfunding chegou a US$ 2,66 bilhões em 2012, comparado a US$ 1,47 bilhão no ano anterior. A expectativa é que, em 2013, o setor alcance a marca de US$ 5,1 bilhões. O estudo também identificou uma tendência de que esse capital será direcionado mais para empresas nascentes do que para projetos sociais, que atualmente recebem mais aportes e apoio.
O Brasil é um país que já mostra desenvolvimento nesse novo ecossistema de financiamento colaborativo, mas é preciso crescer em termos de educação e divulgação. “O tema precisa ser difundido fora do grupo de pessoas que já se interessam e entendem sobre o assunto”, diz Marina Miranda, diretora-geral da Mutopo Brasil e especialista em projetos digitais e crowdsourcing.
O crowdfunding é apontado por especialistas, empreendedores e entusiastas do tema como uma forte ajuda para a economia mundial e uma alternativa eficiente para países em crise ou em desenvolvimento. Para Diego Reeberg, sócio-fundador do site de crowdfunding Catarse, a importância desse sistema é justamente dar fluidez a mercados e ecossistemas com falhas graves e estruturais nos seus sistemas de financiamento. O Catarse, fundado em 2011, já realizou 1.200 projetos com a ajuda de 76 mil pessoas, que contribuíram com R$ 8,8 milhões.
O interesse pelo tema e a importância do capital da multidão para dar vida a projetos e empresas vêm estimulando também o surgimento de sites voltados para mercados específicos. “De uma forma ampla, o financiamento coletivo sempre permeia nichos”, diz Reeberg, que afirma que um site não precisa se limitar a um setor apenas, mas criar canais para que pessoas com interesses em comum possam criar e compartilhar seus projetos e ideias. Qualquer que seja a alternativa, Marina lembra que o crowdfunding só existe se há uma comunidade que o apoie. “Uma plataforma de nicho não dará certo sem um grupo de pessoas para dar respaldo a ela”, afirma.
Confira uma lista de sites que estão voltando suas plataformas de crowdfunding para mercados específicos.
Bicharia 
Ano de criação: 2012
Fundadores: Flavio Steffens de Castro, empresário, 33 anos, e Marcus Sá, 27 anos, desenvolvedor de sistemas
Nicho: crowdfunding para iniciativas que auxiliem animais carentes
Número de projetos na plataforma atualmente: 9
Número de projetos concretizados: 29
Média de valores pedidos: entre R$ 5 mil e R$ 6 mil. Um projeto para ajudar a instituição “Chicote Nunca Mais” chegou a arrecadar R$ 28 mil
A dupla de Porto Alegre queria ajudar animais carentes ou com problemas. O crowdfunding foi escolhido pelo poder que os bichinhos têm de engajar as pessoas. Em seis meses no ar, a Bicharia já arrecadou R$ 130 mil. Atualmente, a plataforma cobra 10% do valor do projeto, mas está buscando parceria com ONGs e grupos de proteção de animais para criar novas funcionalidades, tornando a plataforma mais sustentável e robusta.
Cineasta
Ano de criação: 2012
Fundadores: Leonardo Curcino, publicitário e cineasta, 28 anos, Renato de Alencastro, designer e estudante de arquitetura, 28 anos, e Pedro Xudré, desenvolvedor, 27 anos
Nicho: crowdfunding para projetos independentes de audiovisual
Número de projetos na plataforma atualmente: 20
Número de projetos concretizados: nenhum
Média de valores pedidos: entre R$ 5 mil e R$ 300 mil
O trio está finalizando o site, cuja versão beta entrará no ar em agosto. Os sócios identificaram que o mercado audiovisual ainda é muito dependente das leis de incentivo e quiseram mudar essa realidade com a ajuda de mais pessoas apaixonadas pelo tema. O objetivo do site será ampliar a produção de conteúdo nacional e apresentar novos talentos. Por enquanto, a plataforma cobrará 6% do valor dos projetos. No futuro, os sócios pretendem obter receita com a venda de publicidade e promoções no blog e nas mídias sociais do Cineasta.
Impulso
Ano de criação: 2010
Fundadores: Iniciativa da Aliança Empreendedora, organização social que fomenta e apoia o empreendedorismo em comunidades de baixa renda e desenvolve modelos de negócios inclusivos em parceria com grandes empresas
Nicho: crowdfunding para microempreendedores brasileiros que queiram abrir ou melhorar um negócio
Número de projetos na plataforma atualmente: 8
Número de projetos concretizados: 12
Média de valores pedidos: entre R$ 4 mil e R$ 8 mil
O portal Impulso não possui fins lucrativos. A ideia do site surgiu em 2007, quando a equipe da Aliança Empreendedora se deparou com a dificuldade que os microempreendedores tinham para acessar o microcrédito no Brasil. A primeira versão do projeto surgiu como uma plataforma de financiamento colaborativo para microcrédito. Os empreendedores postavam seus projetos e de quanto precisavam. Eles recebiam as contribuições e, à medida que fossem pagando as parcelas, os apoiadores recebiam esse dinheiro de volta virtualmente e podiam reinvestir em outros empreendedores. Com o crescimento da disponibilidade de microcrédito no país, o Impulso mudou para o modelo de crowdfunding tradicional em 2012. Os usuários, ou impulsionadores, recebem recompensas criativas ao apoiarem o projeto de um microempreendedor brasileiro ou de uma organização que dá suporte a microempreendedores. O autor tem 60 dias para captar 100% e, se não conseguir, quem impulsionou pode receber o dinheiro de volta ou direcionar o valor para outro projeto dentro do site.
Por Rafael Farias Teixeira - 24/07/2013



Nenhum comentário:

Postar um comentário