As fraudes no Imposto de Renda investigadas pela Polícia
Federal (PF) e a Receita em um dos maiores grupos empresariais de forró do país
podem chegar a R$ 500 milhões, segundo divulgou a PF em coletiva nesta
terça-feira (18). Pelo menos quatro bandas administradas pela A3 Entretenimento
são investigadas, entre elas a Aviões do Forró.
O grupo alvo da operação "For All", deflagrada
nesta manhã, é responsável por famosas bandas de forró e casas de show no
Ceará. Segundo a PF, as bandas declaravam apenas 20% do que ganhavam.
Aviões do Forró
Os vocalistas Xand e Solange Almeida foram ouvidos na sede
da PF, em Fortaleza. Segundo a polícia, eles não foram indiciados formalmente,
apenas prestaram esclarecimentos. Os empresários Isaías Duarte e Carlos
Aristides, do grupo A3 Entretenimento, também foram levados para prestar
informações na PF. O G1 entrou em contato com a A3, mas recebeu a informação de
que a empresa não iria comentar o assunto. (veja acima o vídeo da TV Diário do
momento em que Solange deixa a PF por volta do meio-dia)
Ao G1, por e-mail, a banda Aviões do Forró informou
"que está à disposição da Polícia Federal e da Justiça e que colaborará
com todos os questionamentos em relação à operação".
A banda Aviões do Forró informou que a agenda de shows do
grupo segue inalterada. Solange Almeixa e Xand viajam nesta terça-feira para
fazer um show na cidade de Floriano (PI). Na quarta-feira (19) a banda retorna
ao Ceará, onde faz show no município de Lavras da Mangabeira, a cerca de 340 km
de Fortaleza.
O esquema
A delegada PF Doralucia Oliveira explicou que "causou
estranheza" quando foram analisados os valores médios dos cachês das
bandas, a quantidade de shows realizados e divulgados em agenda pela internet,
e os valores declarados ao Imposto de Renda.
As investigações são relativas aos anos de 2012 e 2014.
"Os contratos eram feitos com 20% do valor efetivo, e o resto circulava
por fora com valor em espécie", informou a delegada. Somente com relação
às bandas, a sonegação seria em torno de R$ 121 milhões. Os alvos são
investigados por lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, associação
criminosa e crime contra a ordem tributária.
Foram cumpridos 32 mandados de condução coercitiva (quando a
pessoa é levada a depor e depois é liberada), sendo 26 de pessoas jurídicas e 6
de pessoas físicas. A PF apreendeu 163 bens imóveis, além de 38 veículos de
pessoa física e 37 de pessoas jurídicas.
A Polícia Federal disse ainda que vai abrir "ampla
fiscalização em pessoas físicas e jurídicas para, a partir daí, materializar os
valores que compõem a sonegação". Há apenas um mandado sendo cumprido na
Paraíba; os demais são no Ceará.
A operação
Segundo a PF, o nome da operação faz referência à expressão
da língua inglesa "For All", que significa "para todos" em
português. Há notícias de que no início do século XX, engenheiros britânicos
instalados em Pernambuco para construir uma ferrovia promoviam bailes abertos
ao público, "para todos". O termo passou a ser pronunciado
"forró". "O nome da operação veio dessa origem popular da
palavra forró, principal ramo de atividade do grupo investigado", diz a
polícia.
Cerca de 260 policiais federais e 35 auditores participam da
operação em Fortaleza, Russas e Sousa (PB). Segundo a delegada da PF, uma das
pessoas investigadas na operação teria domicílio na cidade paraibana.
Bloqueio de bens
A Justiça Federal decretou o bloqueio de imóveis e a
apreensão de veículos pertencentes a pessoas ligadas ao grupo.
Há indícios de que os integrantes da organização forneciam
dados falsos ou omitiam informações nas suas declarações de Imposto de Renda
pessoa física e jurídica, para eximir-se da cobrança de tributos.
Segundo a PF, o grupo ainda adquiria bens, como veículos e
imóveis, sem declarar ao Fisco. Foram encontradas divergências sobre valores
pagos a título de distribuição de lucros e dividendos, movimentações bancárias
incompatíveis com os rendimentos declarados, pagamentos elevados em espécie,
além das diversas variações patrimoniais a descoberto.
No decorrer da investigação, foram identificados indícios de
lavagem de capitais, falsidade ideológica e associação criminosa.
"As medidas judiciais cumpridas hoje pela Polícia
Federal têm por finalidade buscar a responsabilização das pessoas físicas e
jurídicas ligadas ao grupo empresarial e possibilitar que Receita Federal se
municie de elementos suficientes permitindo uma real avaliação dos possíveis
tributos sonegados", informou a PF.
A Receita Federal divulgou que as investigações iniciaram em
2012 e foram aprofundadas a partir de 2014, com parceria da Polícia Federal e
do Ministério Público.
Por: Gioras Xerez, Lena Sena e Viviane Sobral
Do G1 CE
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