terça-feira, 27 de setembro de 2016

Direito do Entretenimento - A pirataria de videogames é parte da história no Brasil

“Atualmente, todos são clones chineses. Não há mais clones bons”, queixou-se Danilo Dias, de 27 anos. Ele estava falando sobre como os videogames entravam ilegalmente no Brasil no final da década de 1980, quando cartuchos piratas e sistemas falsificados eram tudo o que se conseguia ter na região.  Junto com dois amigos em Manaus, cidade que margeia a Amazônia Brasileira, Dias cria games com alto grau de nostalgia pelos clássicos que ele nunca jogou legalmente.
“Você precisa conhecê-los. São muito bons, com muita qualidade”, afirmou Dias.
Diferente dos Estados Unidos, onde todos tinham a mesma caixa cinza com blocos retangulares, as crianças no Brasil jogavam o Battletoads e o Double Dragon com uma variedade de excentricidades, inclusive o Phantom System, que era armazenado em um console do Atari 7800.
Acima de tudo, essas falsificações eram as imitações da América do Sul da Nintendo Entertainment System (NES), como o Dynavision 1, 2 e 3, que estranhamente não vinha acompanhado de controladores, mas de pares de joysticks de simulação de voo. (Eles deveriam ser horríveis para controlar o Mario.)
Um mundo de imitações
A história alternativa dos jogos clássicos no Brasil é um excelente exemplo de como os países de todo o mundo tiveram experiências incrivelmente diferentes, e algumas vezes não autorizadas, com games fora dos limites da lei americana de direitos autorais.
Dias teve sua primeira experiência com jogos falsificados de 8 bits em sua cidade natal, Presidente Venceslau, uma pequena cidade com palmeiras e casas com telhado terracota. A cidade é mais conhecida por sua penitenciária, para onde os chefes do crime brasileiro são enviados para o confinamento solitário.
“Lembro que meu pai odiava quando eu ia aos fliperamas”, disse ele. Geralmente, os fliperamas também eram bares, onde as crianças divertiam-se com os joysticks enquanto os adultos bebiam garrafas e mais garrafas de Brahma. Os cinzeiros eram soldados nos painéis do gabinete do Street Fighter. “Eu me lembro de quando estava jogando contra um cara. Ele fazia um ataque especial, batia a cinza no cinzeiro e voltava ao joystick”, comentou ele.
Crescendo em uma cidade remota, localizada a mais de 600 km de São Paulo, Dias raramente tinha contato com cartuchos de games oficiais, que teriam de ser importados por pequenos contrabandistas das cidades maiores. Ele não sabia da existência do NES, até que, anos depois, ele encontrou alguns cartuchos originais do NES enquanto fazia compras em uma loja de eletrônicos.
“Foi um choque”, admitiu. A versão do NES, que ele ainda tem e joga, é uma peça estranha de tecnologia, chamada Turbo Game, produzida pela CCE, uma fabricante brasileira de eletrônicos. Tem controladores em forma de bumerangue de um Sega Genesis, a estrutura de um TurboGrafx-16 e uma aparência muito estranha — um verdadeiro centauro das máquinas de jogos. Ele mostrou alguns de seus games, que são pretos com etiquetas genéricas; um deles tem os dizeres “Radical 7 x 1!”.
Uma economia curiosa
Esses consoles e games falsificados não eram vendidos clandestinamente, mas de maneira regular em lojas de departamento, como a Mesbla e o Magazine Luiza, lojas brasileiras semelhantes ao Wal-Mart e ao K-Mart. “Era como se nós não tivéssemos lei!”, afirmou ele. Por volta de meados dos anos 90, quando empresas, como Nintendo e Sega começaram a entrar na América Latina, os sistemas clones entraram em decadência. Mas isso não deu fim às vendas ilegais.
“Depois dos clones, as pessoas compravam games de contrabando”, disse Dias, referindo-se à antiga prática dos brasileiros de cruzar a fronteira com o Paraguai para comprar mercadorias mais baratas. E foi dessa maneira que Dias comprou seu GameCube, explicou ele.
Produtos eletrônicos de todos os tipos sempre foram tributados de maneira exorbitante no Brasil, como muitos blogs lembraram no ano passado em reportagens em que se dizia que o PlayStation 4 estava sendo vendido por US$ 1.850 no país.
O governo brasileiro faz isso para incentivar as empresas estrangeiras a abrirem lojas no Brasil, mas, em geral, isso não funciona dessa forma. Não muito longe, nos mercados negros da Ciudad del Este, onde, diariamente, homens com armas mantêm guarda em frente às lojas, é possível comprar tudo o que se pode imaginar com grande desconto: cigarros contrabandeados, bolsas falsificadas, DVDs falsificados, blocos de maconha, AK-47s e, algumas vezes, videogames.
Quando o segundo projeto de Dias e seus amigos, Odallus: The Dark Call, for lançado ainda este ano, ele terá pixels robustos, música simples sintetizada e um herói lutando com sua espada contra criaturas com tentáculos.  É uma cópia exata de um game da NES, o que é estranho, levando-se em consideração que a Nintendo só entrou no mercado brasileiro em 1993, com o Super Nintendo.
A Kill Screen é uma empresa de arte e cultura de videogames, que deseja mostrar ao mundo por que os games são importantes. Sediada no Brooklyn, a Kill Screen publica um website e uma revista, além de organizar eventos, como o revolucionário Fliperama no Museu de Arte Moderna e o Twofivesix, que a Mashable chamou de “TED dos videogames.” O New Yorker chamou a Kill Screen de “a McSweeney’s da mídia interativa” e a TIME disse que a escrita era tão “impecável que poderia ajudar a convencer os incrédulos de que os games devem ser levados a sério.”
Por Jason Johnson
Fonte: IQ Intel 

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