quarta-feira, 21 de junho de 2017

Direito Digital - Amante terá de indenizar esposa por ofensas e intimidações nas redes sociais

Uma brasileira que foi amante de um homem casado nos EUA indenizará a esposa por danos morais, por enviar fotos e mensagens para ela, amigos e familiares do marido, demonstrando a existência da relação extraconjugal.
A 11ª câmara do TJ/RJ manteve a condenação por dano moral fixada em 1º grau em R$ 15 mil, negando provimento aos recursos de ambas aspartes.
A autora da ação contou que, em abril de 1996, casou-se com o brasileiro nos EUA, onde o casal se estabeleceu, e que em julho de 2005,em uma das suas visitas ao Brasil, o marido deu início a um relacionamento extraconjugal que ela só descobriu em 2008, quando a amante telefonou para a residência do casal na terra de Trump, se identificado e contando do caso.
O marido, narrou, confirmou a relação mas disse que já havia terminado o relacionamento– e o casamento prosseguiu. Foi quando teve início, de acordo com os autos, as ações da ré: passou a enviar mensagens por meio das contas da autora no Flickr, Facebook e Blogger, denunciando o caso amoroso, inclusive com detalhes íntimos do casal, além de fotos da época em que o relacionamento ainda existia. Em uma das mensagens, a amante escreveu:
"Uma vez o R. comprou umas camisetas para você. Foi eu quem experimentou para ele ver se gostava, ou não. Ele também me trazia presente das viagens. Ele dizia que era muito difícil, porque eram poucos os momentos que ele conseguia escapar de você para poder comprar. Tenho um colar lindo que ele me trouxe da Grécia. Também já provei os bombons que sua mãe faz!"
Humilhar, intimidar e ofender
Para o desembargador Fernando Cerqueira Chagas, relator da apelação,o teor jocoso e provocativo das mensagens enviadas demonstra que a intenção da ré não era simplesmente alertar a autora do caso que havia mantido com seu marido.
Evidencia o propósito de humilhar, intimidar e ofender a autora, que, após descobrir a relação extraconjugal havida, aceitou manter o vínculo matrimonial.”
Consta no acórdão que a amante buscava desmoralizar a autora em seu meio social ao enviar o link de álbum de fotos do casal para terceiros.Fazendo referência a estudo sobre o bullying mediado pelas tecnologias de informação,o relator concluiu que a conduta da ré violou a dignidade da pessoa da esposa.
Princípio da dignidade da pessoa humana que deve ser preservado quando violada a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem,assegurando aos ofendidos, na forma do art. 5º da CF, o ressarcimento moral.”
A decisão do colegiado foi unânime.

Fonte: Migalhas

Ementa

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
DÉCIMA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL 
APELAÇÃO CÍVEL Nº 0372328-32.2009.8.19.0001 
APELANTE 1: MARIA HELENA FERREIRA 
APELANTE 2: LUCIA HELENA PITTER 
APELADOS: OS MESMOS 
RELATOR: Des. FERNANDO CERQUEIRA CHAGAS 

APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS. ENVIO DE MENSAGENS E FOTOS PELA RÉ À AUTORA E A TERCEIROS REFERENTES A CASO EXTRACONJUGAL QUE HAVIA MANTIDO COM SEU MARIDO. 
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARCIAL. CONDENAÇÃO DA RÉ AO PAGAMENTO DE R$ 15.000,00, A TÍTULO DE DANOS MORAIS. 

1. Teor jocoso e provocativo das mensagens enviadas que não demonstra que a intenção da ré fosse a de simplesmente alertar a autora do caso que havia mantido com seu marido, mas, ao revés, evidencia o propósito de humilhar, intimidar e ofender a autora, que, após descobrir a relação extraconjugal havida, aceitou manter o vínculo matrimonial. 
2.Ademais, consta dos autos prova de que a ré buscava desmoralizar a autora em seu meio-social ao enviar o link de álbum de fotos do casal para terceiros.
3.Princípio da dignidade da pessoa humana que deve ser preservado quando violada a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem, assegurando aos ofendidos, na forma do art. 5º da CF, o ressarcimento moral. 
4.Danos morais evidenciados, cujo valor fixado em R$ 15.000,00 não merece redução tampouco majoração, observadas as peculiaridades do caso concreto. 
RECURSOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS

terça-feira, 20 de junho de 2017

Direito de Imagem - Erro em notícia gera dever de indenizar


A 10ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo condenou emissora de televisão a indenizar centro comercial no valor de R$ 50 mil, a título de danos morais, em razão de informação incorreta divulgada em notícia.

Consta dos autos que a emissora noticiou que teria ocorrido um homicídio dentro do estabelecimento, mas ficou comprovado que o fato aconteceu em local próximo. Ao ajuizar a ação, o centro comercial alegou que teve sua imagem prejudicada ao ser associado ao incidente.

Segundo o desembargador J.B. Paula Lima, uma vez que ficou caracterizada falha na devida apuração ao divulgar os fatos, é imperativo o dever de reparar o dano. “Evidente que a notícia inverídica causou transtornos às autoras, pois a falta de segurança de estabelecimentos comerciais e de alguns bairros da cidade é diariamente noticiada, de modo que a inverdade da informação causa impactos nocivos à imagem da empresa.”
        
A votação, unânime, também teve a participação dos desembargadores João Carlos Saletti e Araldo Telles.
        
Apelação nº 1075677-88.2015.8.26.0100
        

Ementa:

APELAÇÃO CÍVEL n° 1075677-88.2015.8.26.0100
Comarca: São Paulo Central Cível 1ª Vara Cível
Apelante/apelado: Instituto Cultural Galeria do Rock e outro
Apelante/apelado: Rádio e Televisão Bandeirantes Ltda e outro
Voto n° 6180
Apelação. 
Ação de indenização por danos morais. Ré que noticiou a ocorrência de um crime nas dependências do estabelecimento comercial apelado. Notícia inverídica. Os direitos à liberdade de expressão e à livre manifestação com proteção constitucional,não possuem caráter absoluto,encontrando limites em garantias constitucionais não menos essenciais à concretização da dignidade da pessoa humana,como o direito à honra, à intimidade, à privacidade e à imagem.A pessoa jurídica pode sofrer dano moral desde que ferida em sua honra objetiva, ao conceito de que goza no meio social.Precedentes do STJ. Demonstração de abalo à honra objetiva no caso concreto. Dever de indenizar caracterizado. Indenização majorada. Recurso das autoras provido. Recurso da ré desprovido

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Direito do Entretenimento - Roteirista dos Trapalhões por mais de 30 anos não obtém vínculo de emprego com a Globo


A Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho não admitiu recurso de um roteirista que pretendeu vínculo de emprego com a Globo Comunicação e Participações S.A., alegando que, por mais de 31 anos, teria sido obrigado a prestar serviços para a emissora, como pessoa jurídica (PJ), no programa Os Trapalhões. Segundo o trabalhador, houve contratos sucessivos de locação de serviços literários, entre sua empresa e a Globo, apenas para “mascarar a relação de emprego”.
O roteirista contou que foi contratado como empregado em 1973, com carteira assinada pela TV Globo Ltda., para exercer a função de produtor, e demitido sem motivo em 1976. Mas, quando foi chamado em 1981 para ser roteirista de programas, disse que a emissora exigiu que ele constituísse uma PJ para trabalhar nas mesmas condições de um empregado.  Começaram, assim, os contratos com a Marte Produções Artísticas Ltda., cujos sócios eram ele e a esposa.
Em sua defesa, a emissora negou o vínculo de emprego e afirmou que não houve prova da coação e da fraude alegadas pelo roteirista. A 7ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro (RJ) julgou procedente o pedido e reconheceu a relação empregatícia de 1981 a 2013.  O Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (RJ) reformou a sentença, por considerar válidos os contratos entre as pessoas jurídicas em questão.
Para o TRT, não existiu subordinação entre as partes – condição essencial para se reconhecer o vínculo de emprego. “Os contratos firmados entre a empresa do autor e a ré somente demonstram que foi avençado que o obreiro redigiria programas e orientaria gravações, não havendo elemento a indicar subordinação”, destacou o Regional. Mensagens da Globo requerendo textos para determinados dias ou marcando reuniões não serviram de prova nesse sentido, pois a conduta é comum na prestação de serviços entre empresas.
TST
Relator do recurso do roteirista ao TST, o ministro Hugo Carlos Scheuermann disse que não havia condições processuais para conhecer do apelo e julgar o mérito do caso. Para ele, a indicação genérica de ofensa aos artigos 3º e 9º da CLT, “sequer atende ao requisito do artigo 896, parágrafo 1º-A, inciso II, da CLT, o qual exige a indicação, de forma explícita e fundamentada, de contrariedade a dispositivo de lei, súmula ou orientação jurisprudencial do TST que conflite com a decisão regional”.
Além disso, o ministro assinalou que o acórdão regional não confirmou a necessidade de as obras do profissional passarem pelo crivo do setor de censura da empresa ou mesmo de estarem submetidas à concordância dos superiores hierárquicos, como alegou o roteirista no recurso. “Tampouco há menção quanto ao fornecimento de pl
ano de saúde ao roteirista e a seus dependentes”, frisou. Para se chegar a uma conclusão diferente, seria necessário o reexame de fatos e provas, procedimento vedado em sede de recurso de revista (Súmula 126).
A decisão foi unânime.
Fonte: TST
PROCESSO Nº TST-RR-11253-58.2013.5.01.0007

RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO NA VIGÊNCIA DA LEI 13.15/2014. RELAÇÃO DE EMPREGO NÃO CONFIGURADA. CONTROVÉRSIA ACERCA DA DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA PROVA. 1. O Tribunal Regional, a partir da valoração das provas produzidas, reformou a sentença para afastar o vínculo de emprego pretendido pela parte autora. 2. O Tribunal Regional não se valeu das regras de distribuição do ônus da prova, a que aludem os arts. 818 da CLT e 333, II, do CPC, para solucionar o litígio, o que somente se verifica quando não produzidas provas ou essas se revelem insuficientes para formação da convicção do juízo. 3. No caso, ao revés, o Tribunal Regional decidiu com base nas provas efetivamente produzidas, de modo a afastar a violação dos dispositivos legais invocados.
Recurso de revista não conhecido.


Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n° TST-RR-11253-58.2013.5.01.0007, em que é Recorrente EXPEDITO JOSÉ FAGGIONI e Recorrido GLOBO COMUNICAÇÃO E PARTICIPAÇÕES S.A..

O Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região deu provimento ao recurso ordinário da reclamada, para julgar improcedente a reclamação trabalhista.
Contra essa decisão, o reclamante interpõe recurso de revista, com fundamento nas alíneas "a" e "c" da CLT.
O recurso de revista foi admitido pelo Tribunal Regional, por possível violação dos artigos 818 da CLT e 333, II, do CPC/1973.
Não foram apresentadas contrarrazões.
Sem remessa ao Ministério Público do Trabalho.
É o relatório.

V O T O

I – CONHECIMENTO

1. PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS
Preenchidos os pressupostos genéricos de admissibilidade recursal relativos à tempestividade, regularidade de representação e preparo, prossigo no exame dos específicos.

2. PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS

RELAÇÃO DE EMPREGO NÃO CONFIGURADA. CONTROVÉRSIA ACERCA DA DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA PROVA
Trata-se de recuso de revista interposto pelo reclamante contra o acórdão proferido pelo TRT da 1ª Região, mediante o qual provido o recurso ordinário da reclamada, para julgar improcedente a reclamação trabalhista. Eis o teor do acórdão regional:

"CLT, em seu art. 442, define contrato de trabalho como "o acordo tácito ou expresso correspondente à relação de emprego", expressão que, como ensina Délio Maranhão, in Direito do Trabalho, 8º ed., pág. 40, leva o intérprete a girar em círculo vicioso, não só porque a definição nada esclarece a respeito do que pretendia o legislador definir, mas também porque o contrato cria uma relação jurídica, não corresponde a ela.
É, sem dúvida, a interpretação dos artigos 2º e 3º da CLT que nos leva ao conceito de contrato individual de trabalho, que, ainda segundo Délio Maranhão, "é o negócio jurídico de direito privado pelo qual uma pessoa física (empregado) se obriga à prestação pessoal, subordinada e não eventual de serviço, colocando sua força-de-trabalho à disposição de outra pessoa, física ou jurídica, que assume os riscos de um empreendimento econômico (empregador) ou de quem é a este, legalmente, equiparado, e que se obriga a uma contraprestação (salário)."
Temos, assim, como elementos indispensáveis à caracterização de todo e qualquer contrato de trabalho regido pela CLT, a ocorrência de prestação de serviços, por pessoa física, de natureza não eventual, a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.
No caso, o autor alega que prestou serviços para a ré na função de roteirista no período de 01/01/1981 a 31/12/2012, sendo que foi obrigado a constituir pessoa jurídica - Marte Produções Artísticas Ltda – para mascarar a relação empregatícia (id 6144164 - págs. 4/5).
A ré, em defesa, nega o vínculo de emprego, aduzindo que a relação do autor se deu através da empresa da qual este era sócio, pelo que a este competia a prova da coação e fraude alegadas na inicial.
Compulsando-se os autos, não se observa qualquer prova com o condão de evidenciar relação de subordinação entre autor e ré.
Data vênia do juízo a quo, os contratos firmados entre a empresa do autor e a ré somente demonstram que foi avençado que o obreiro redigiria programas e orientaria gravações, não havendo qualquer elemento a indicar subordinação. Vale transcrever os trechos destacados pela sentença:

"O objeto do presente Contrato é a cessão, por uma das partes à outra, do profissional EXPEDITO JOSÉ FAGGIONI, em arte, EXPEDITO FAGGIONI, que também firma o presente instrumento, solidário em todos os seus termos, para redigir programas da CESSIONÁRIA, do gênero 'show', para televisão, por indicação da mesma, e orientar as suas gravações" (id 7839680)
"O objeto do presente Contrato é a cessão, por uma das partes à outra, do profissional EXPEDITO JOSÉ FAGGIONI, em arte, EXPEDITO FAGGIONI, com absoluta exclusividade para esta, em todo Território Nacional, que também firma o presente instrumento, solidário em todos os seus termos, para produzir, literariamente, programas, do gênero 'show', a critério da CESSIONÁRIA e orientar a(s) sua(s) gravação(ões), escrita(s) por determinação da CESSIONÁRIA, para ser exibida em televisão (...)" (id 7839730).
"(...) com interveniência de EXPEDITO JOSÉ FAGGIONI, em arte, EXPEDITO FAGGIONI, neste ato denominado simplesmente INTERVENIENTE, mediante as cláusulas e condições que se seguem:
1 - DO OBJETO
Constitui objeto deste Contrato de locação, que a LOCADORA faz à LOCATÁRIA, dos serviços profissionais do INTERVENIENTE, contratado exclusivo daquela e a quem incumbe redigir programas 'OS TRAPALHÕES' ou outro em substituição (...)" (id 7840119).

Como se vê, a redação é a que usualmente se utilizava em contratos de cessão de serviços de natureza intelectual, sem qualquer indicativo de que haja subordinação entre autor e ré. Também é normal que roteiristas, produtores e artistas do gênero criem pessoa jurídica para prestar serviços, sobretudo em virtude de vantagens em termos contábeis e tributários.
 Os e-mails (exemplo, id 4040702 - Pág. 1) em que a reclamada requeria textos para determinado dia e aquele (id 4040075 - Pág. 1) em que é marcada reunião entre autor e ré não bastam para comprovar subordinação, pois natural que, em contratos de prestação de serviços, o contratante requeira que o contratado realize o objeto do contrato em determinado prazo, bem como que, eventualmente, realizem-se reuniões para que as partes contratantes discutam sobre detalhes do serviço, sobretudo em casos de trabalho de natureza intelectual.
Dessa maneira, considerando os contratos de prestação de serviços firmados entre a empresa do autor e a ré, e tendo em vista que não há prova a evidenciar que o obreiro estava subordinado àquela, não há como se reconhecer a existência do vínculo de emprego pretendido pela parte autora, motivo pelo qual improcede o presente pleito.
Prejudicada a análise dos demais pedidos.
Dou provimento."

Nas razões recursais, sustenta o reclamante que o fundamento adotado pelo TRT para afastar o vínculo empregatício reconhecido pelo Juízo de primeiro grau seria "flagrantemente contraditório a farta, robusta e convincente prova documental produzida". Alega presentes todos os elementos indispensáveis à caracterização do vínculo empregatício, inclusive a subordinação. Diz que todas as suas obras passavam pelo crivo do setor de censura da empresa e estavam submetidas ao cumprimento de prazos e à concordância dos superiores hierárquicos. Afirma que a empresa fornecia plano de saúde ao recorrente e a seus dependentes. Argumenta que, "ao admitir a Ré a prestação de serviços pelo autor, incumbia-lhe provar de que a mesma ocorreu sob a forma de natureza civil, já que a presunção relativa de que a relação laboral ocorreu sob a forma de um contrato de trabalho subordinado, por ser este o modo comum pelo qual se formalizam os contratos de atividade". Indica violação dos arts. 3º, 9º e 818 da CLT e 333, II, do CPC/73. Transcreve arestos de Turmas desta Corte Superior.
Ao exame.
De início, não prospera a alegação de afronta aos arts. 3º e 9º da CLT.
Conquanto a parte transcreva, no início das razões recursais, o trecho do acórdão regional que, no seu entender, demonstraria o prequestionamento da matéria, não antedeu ao disposto no art. 896, §1º-A, III, da CLT, o qual também exige a demonstração analítica de cada dispositivo de lei e da Constituição Federal ou verbete jurisprudencial que se aponte contrariado, em relação aos fundamentos jurídicos da decisão recorrida.
Por sinal, a indicação genérica de que ofensa aos arts. 3º e 9º da CLT sequer atende ao requisito do inciso II do art. 896, § 1º-A, da CLT, o qual exige a indicação, de forma explícita e fundamentada, de contrariedade a dispositivo de lei, súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho que conflite com a decisão regional.
Ressalta-se que a mens legis não foi de impor à parte um ônus de ordem apenas topográfica, mas sim de natureza jurídica, razão porque não se pode cometer ao Ministro Relator do recurso de revista ou do respectivo agravo de instrumento a tarefa de extrair, de ofício, o pronunciamento contido no v. acórdão do e. TRT de origem apto a caracterizar o prequestionamento, exatamente como se dava antes da vigência da Lei nº 13.015/2014 - sendo indene de dúvidas, conforme regra elementar de Hermenêutica Jurídica, que implica violação da lei qualquer eventual interpretação dessa última que, ao fim e ao cabo, venha a negar-lhe eficácia.
De qualquer sorte, sequer há registro no acórdão regional acerca da alegada necessidade de as obras do reclamante passarem pelo crivo do setor de censura da empresa ou mesmo de estarem submetidas à concordância dos superiores hierárquicos. Tampouco há menção quanto ao fornecimento de plano de saúde ao recorrente e a seus dependentes.
Noutro giro, ainda que a parte indique de maneira fundamentada a suposta ofensa aos arts. 818 da CLT e 333, II, do CPC/73, verifico que o Tribunal Regional não se valeu das regras de distribuição do ônus da prova para solucionar o litígio, o que somente se verifica quando não produzidas provas ou essas se revelem insuficientes para formação da convicção do juízo. No caso, ao revés, o Tribunal Regional decidiu com base nas provas efetivamente produzidas, de modo a afastar a violação dos dispositivos legais invocados.
Constata-se, na verdade, do teor das razões recursais e dos trechos do acórdão regional transcritos nas razões do recurso de revista, que a pretensão recursal tende ao reexame e valoração do conjunto fático probatório, o que encontra óbice em recursos de natureza extraordinária, conforme entendimento pacificado na Súmula 126/TST.
Por fim, os arestos paradigmas coligidos não se habilitam ao cotejo, porque oriundos de Turmas desta Corte Superior (art. 896, "a", da CLT).
Não conheço.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, não conhecer do recurso de revista.


Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)
HUGO CARLOS SCHEUERMANN
Ministro Relator

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Direito Digital - TST reverte justa causa de atendente que enviou e-mail com fotos de nudez


A Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho manteve decisão que afastou a justa causa aplicada pela Votorantim Cimentos Ltda. a uma atendente de logística que enviou e-mails a duas colegas com fotos de partes íntimas de pessoas famosas. A Turma – considerando que o e-mail não continha cenas de sexo, não foi encaminhado à lista da empresa e foi aberto somente por ordem da supervisora – rejeitou recurso da empresa contra a decisão, que considerou excessivo o rigor na punição.  
A atendente foi demitida dez meses depois da admissão, e disse que não leu o e-mail, que tinha como assunto termos pejorativos, e apenas o repassou às colegas. Afirmou, ainda, que nem foi advertida. A Votorantim defendeu a legalidade da dispensa diante da transgressão de regras de conduta e do uso irregular de computador e do correio eletrônico corporativo, em descumprimento à política de segurança.
Para o juízo da 15ª Vara do Trabalho de Curitiba (PR), o título sugeria o conteúdo do e-mail, e a trabalhadora tinha conhecimento da proibição de encaminhá-lo. Apesar disso, a sentença entendeu que houve rigor excessivo na punição, e deferiu a conversão da dispensa para sem justa causa. Igual entendimento teve o Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região (PR), que não considerou a falta grave a ponto de impossibilitar a relação de emprego. Observou, ainda, que, segundo as testemunhas ouvidas, era comum o uso do e-mail para fins particulares, e ninguém foi demitido por esse motivo.
Em recurso ao TST, a Votorantim insistiu que a atendente descumpriu normas, sobretudo a política de segurança, e confessou que o abriu e o encaminhou no horário de trabalho, ciente da proibição. Mas o relator, ministro Walmir Oliveira da Costa, assinalou que o Regional, ao manter a decisão que afastou a justa causa, baseou-se no princípio da proporcionalidade entre a gravidade da falta cometida e a pena aplicada, não violando o artigo 482, alíneas “a”, “e” e “h” da CLT. Para chegar a uma conclusão diferente, seria necessário o reexame de fatos e provas, conduta proibida pela Súmula 126 do TST.
A decisão foi unânime no sentido de não conhecer do recurso da empresa, e a dispensa da atendente foi transformada em despedida sem justa causa.
Fonte: TST
PROCESSO Nº TST-RR-3680500-19.2009.5.09.0015

RECURSO DE REVISTA. ENVIO DE E-MAIL COM CONTEÚDO PORNOGRÁFICO. DISPENSA POR JUSTA CAUSA. EXCESSO NA PUNIÇÃO. PROPORCIONALIDADE. MATÉRIA FÁTICA.
I – Trata-se de hipótese em que o Tribunal Regional, valorando fatos e provas, concluiu que, a despeito da inadequação da conduta da reclamante, as reclamadas agiram com rigor excessivo. Registrou que "o conteúdo do e-mail não continha cenas de sexo. Continha, como o título indica, fotos de 'pênis'. Embora o conteúdo do e-mail possa não agradar e até ofender, o fato é que a autora não o encaminhou para uma lista de pessoas, mas sim para duas colegas do seu círculo íntimo. Não estava 'propagando' material pornográfico indiscriminadamente para todos os colegas da empresa. E vale observar que o e-mail só foi aberto no local de trabalho pela destinatária porque a supervisora assim determinou".
II - Diante das premissas fáticas delineadas na decisão recorrida, insuscetíveis de reexame nesta fase recursal, nos termos da Súmula nº 126 do TST, tem-se que o Tribunal Regional, ao manter a decisão que afastou a justa causa, utilizando como fundamento o princípio da proporcionalidade entre a gravidade da falta e a pena aplicada, não violou o art. 482, "a", "e" e "h", da CLT, pois referidos preceitos apenas tipificam as justas causas do empregado e não a necessidade de haver proporção entre a falta grave e a pena.
Recurso de revista de que não se conhece.


Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n° TST-RR-3680500-19.2009.5.09.0015, em que é Recorrente VOTORANTIM CIMENTOS LTDA. e são Recorridos VANESSA ZÓZIMO DO AMARAL e VELOX CONSULTORIA EM RECURSOS HUMANOS LTDA.

O Tribunal Regional deu parcial provimento ao recurso ordinário interposto pela reclamante para "acrescer à condenação horas extras e reflexos" e negou provimento ao recurso ordinário interposto pela segunda reclamada.
Inconformada, a reclamada interpõe o presente recurso de revista.
Admitido o recurso, a reclamante apresentou contrarrazões.
Dispensada a remessa dos autos ao Ministério Público do Trabalho, nos termos do art. 83, § 2º, II, do Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho.
É o relatório.


1. CONHECIMENTO

Satisfeitos os pressupostos genéricos de admissibilidade recursal quanto à tempestividade, à regularidade de representação processual e ao preparo, passa-se ao exame dos específicos do recurso de revista.

1.1. HORAS EXTRAS. ACORDO DE COMPENSAÇÃO. TRABALHO EXCEDENTE A 10 HORAS DIÁRIAS E AOS SÁBADOS (DIA DESTINADO À COMPENSAÇÃO). INAPLICABILIDADE DA SÚMULA Nº 85 DO TST

Em relação ao tema em epígrafe, o Tribunal Regional deu provimento ao recurso ordinário interposto pela reclamante mediante os seguintes fundamentos, verbis:

A. Horas extras - Acordo de compensação de jornada
Busca a reclamante acrescer à condenação horas extras e reflexos.
Aduz que havia labor aos sábados e em jornada superior a 10 horas diárias -- como, p. ex., nos cartões-ponto de fls. 230/231 --, sendo inválido o acordo de compensação de jornada firmado entre as partes.
Razão lhe assiste.
Na hipótese, as partes firmaram acordo de compensação de jornada (fl. 267), estando a reclamante submetida à jornada laboral das 8h às 18h de segunda a quinta-feira, com intervalo intrajornada de 1h, e das 8h às 17h às sextas-feiras, com o mesmo intervalo para descanso e alimentação.
Entretanto, denota-se dos controles de jornada acostados aos autos (fls. 230 e segts.), que havia labor excedente à 10ª hora diária (como, p. ex., nos dias 17/12/2008, 12/08/2009 e 15, 18 e 23/09/2009   -- fls. 230, 235 e 236), bem como aos sábados (como, p. ex., nos dias 14 e 28/03/2009 -- fl. 232), em nítida violação ao pactuado.
Portanto, e nos termos do art. 59, § 2º, da CLT, inquestionável a existência de horas extras sem a respectiva paga, a serem consideradas como tais as excedentes à 8ª diária e 44ª semanal, não cumulativamente, através de apuração pelos controles de ponto, ou pela média, quando não juntados aos autos, observando-se, ainda, os seguintes parâmetros: divisor 220; adicional legal ou convencional, se mais benéfico; base de cálculo formada salário base; reflexos em DSRs, aviso prévio, férias acrescidas de 1/3, 13º salário, FGTS acrescido de 40%. Abatam-se os valores quitados ao mesmo título.

Nas razões do recurso de revista, a segunda reclamada alega que "os horários referentes à compensação de jornada restaram amplamente configurados nos autos, uma vez que se destinavam à exclusão do labor em sábados, através da prorrogação de jornada de 2ª à 5ª feira". Aduz que "ainda que o recorrido tenha laborado em horários acima daqueles destinados à compensação da jornada de trabalho, a recorrente sempre efetuou o pagamento das horas extras considerando os parâmetros adotados para compensação de jornada, o mesmo ocorrendo quando laborou em sábados". Sustenta que o art. 7º, XIII, da Constituição Federal, "faculta a compensação de horários mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho, mas não proíbe a prestação de horas extrementes". Requer "a reforma a r. decisão, para declarar a validade e eficácia do acordo de compensação de jornada, excluindo da condenação o pagamento do adicional de horas extras àquelas excedentes da 8ª e compreendidas na 44ª semanal". Requer, ainda, a aplicação do entendimento previsto no item III da Súmula nº 85. Indica violação do art. 7º, XIII, da Constituição Federal, 59, § 2º, da CLT, além de contrariedade à Súmula nº 85 do TST. Transcreve arestos para o confronto de teses.
O recurso não alcança conhecimento.
O Tribunal Regional, valorando fatos e provas, concluiu que havia labor excedente a 10 horas diárias, bem como exigência de trabalho aos sábados (dia destinado à compensação de jornada), em nítida violação ao pactuado. Nesse contexto, ante o flagrante extrapolamento das jornadas diária e semanal, em desconformidade com o regime de compensação avençado, não se afere violação dos arts. 7º, XIII, da Constituição Federal, e 59, § 2º, da CLT.
No que se refere ao entendimento consubstanciado no item III da Súmula nº 85, sinale-se que a jurisprudência desta Corte Superior é firme no sentido de que o extrapolamento das jornadas diária e semanal, inclusive com o trabalho aos sábados, quando este dia é destinado à compensação, afasta a aplicação do referido Verbete.
Corroboram esse entendimento os seguintes precedentes da SBDI-1, órgão de uniformização da jurisprudência desta Corte Superior:

(...) RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI 13.015/2014. HORAS EXTRAS. ACORDO DE COMPENSAÇÃO SEMANAL. TRABALHO HABITUAL AOS SÁBADOS CUMULADO COM PRORROGAÇÃO HABITUAL DA JORNADA. INEXISTÊNCIA DE COMPENSAÇÃO. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 85, IV, DO TST. Nos casos em que pactuado acordo de compensação semanal para o trabalho que deveria ser prestado aos sábados e, concomitantemente, ocorre a prorrogação habitual da jornada com trabalho, inclusive aos sábados, o trabalhador é submetido a jornadas excessivas de segunda a sexta-feira, realizando, além da jornada normal, labor em horas destinadas à compensação e horas destinadas à prorrogação, em total desacordo com o que dispõe o artigo 59, caput, da CLT. A existência de trabalho habitual aos sábados impede a aplicação da Súmula 85, IV, do TST. Adotar entendimento contrário significaria compactuar com a possibilidade de prorrogação da jornada para além do limite previsto na legislação celetista, estimulando a confecção de acordos esvaziados de sentido desde sua gênese, em detrimento das normas de segurança e medicina do trabalho. No caso concreto, consta da decisão turmária que da transcrição do acórdão regional se constata a existência de habitual trabalho extraordinário, que, em diversas ocasiões, ultrapassava a jornada máxima diária de 10 horas e, ainda, o trabalho em sábados. Há precedentes. Recurso de embargos conhecido e provido. (E-ED-RR-1265-93.2011.5.09.0513, Relator Ministro: Augusto César Leite de Carvalho, Data de Julgamento: 04/08/2016, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 12/08/2016)
RECURSO DE EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO SOB A ÉGIDE DA LEI 11.496/2007. RITO SUMARÍSSIMO. HORAS EXTRAS. EXTRAPOLAÇÃO DAS CARGAS HORÁRIAS DIÁRIA E SEMANAL. TRABALHO HABITUAL AOS SÁBADOS. AUSÊNCIA DE EFETIVA COMPENSAÇÃO DE JORNADA. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 85 DO TST.  1. O Colegiado Turmário não conheceu do recurso de revista da reclamada, consignando que "o acordo de compensação foi amplamente descumprido, ficando demonstrado o extrapolamento da jornada em todos os dias trabalhados e a não oferta da folga compensatória aos sábados. Conclui, assim, que não se trata de clara inviabilidade do acordo de compensação, impossibilitando a exclusão da condenação das horas extras e, até mesmo, a aplicação da Súmula n 85, IV, do TST". 2. Depreende-se, assim, do acórdão turmário, que a hipótese dos autos é de descumprimento do acordo de compensação de jornada pelo empregador, sendo efetivamente devido o pagamento, como extras, das horas de trabalho excedentes da oitava diária e da quadragésima quarta semanal. 3. Inaplicável à hipótese o entendimento cristalizado nos itens III e IV da Súmula 85 do TST, por não se constatar o mero desatendimento das exigências legais para a compensação de jornada ou a simples prestação habitual de horas extras, mas, sim, a ausência de efetiva compensação, em razão do extrapolamento das cargas horárias diária e semanal e do labor habitual aos sábados - dia destinado à compensação. Precedentes desta Subseção. Recurso de embargos conhecido e não provido. (E-RR-20400-92.2007.5.09.0655, Relator Ministro: Hugo Carlos Scheuermann, Data de Julgamento: 14/05/2015, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 22/05/2015)
EMBARGOS REGIDOS PELA LEI Nº 11.496/2007. ACORDO DE COMPENSAÇÃO DE JORNADA. HORAS EXTRAS HABITUAIS E TRABALHO AOS SÁBADOS. NULIDADE. AUSÊNCIA DE OBSERVÂNCIA DOS REQUISITOS MATERIAIS DE VALIDADE DO ACORDO. INAPLICABILIDADE DO ITEM IV DA SÚMULA Nº 85 DO TST. A jurisprudência desta Corte sedimentada na Súmula nº 85, item IV, dispõe que: "A prestação de horas extras habituais descaracteriza o acordo de compensação de jornada. Nesta hipótese, as horas que ultrapassarem a jornada semanal normal deverão ser pagas como horas extraordinárias e, quanto àquelas destinadas à compensação, deverá ser pago a mais apenas o adicional por trabalho extraordinário. (ex-OJ nº 220 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001)". Assim, segundo o item IV da Súmula nº 85 do TST, havendo descaracterização do acordo de compensação de jornada, em razão da prestação habitual de trabalho em sobrejornada, as horas laboradas além da jornada semanal normal deverão ser pagas como extras, e aquelas destinadas à compensação, remuneradas a mais apenas com o adicional de horas extras, a fim de se evitar pagamento em duplicidade. Logo, somente no caso de não observância de requisito formal, será aplicado o entendimento mencionado, com vistas a limitar a condenação ao pagamento apenas do adicional de horas extras com relação àquelas horas destinadas à compensação. Inaplicável, no entanto, nos casos em que, além da prestação habitual de horas extras, haja descumprimento dos requisitos materiais, a saber: extrapolação da jornada de 10 horas (art. 59, § 2º, da CLT) e da carga semanal de 44 horas; ausência de discriminação dos horários destinados à compensação; ou cumulação de compensação com o trabalho extraordinário. Na hipótese destes autos e de acordo com as premissas delineadas, não se aplica o item IV da Súmula nº 85 do TST, pois, embora existente acordo de compensação de jornada, não houve a efetiva compensação. Conforme quadro fático delineado no acórdão regional e transcrito na decisão da Turma, "os controles de ponto revelam o labor habitual aos sábados" e "os cartões de ponto também demonstram a habitual prestação de horas extras". Portanto, não atendida a finalidade do acordo de aumento da jornada diária para compensação aos sábados e diante da comprovada existência de prestação habitual de horas extras, conclui-se estar descaracterizado o acordo de compensação de jornada. Embargos conhecidos e desprovidos. Processo: E-RR-1472-54.2012.5.09.0094, Data de Julgamento: 15/10/2015, Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 03/11/2015.
RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI N.º 13.015/2014. ACORDO DE COMPENSAÇÃO. PREVISÃO EM NORMA COLETIVA. PRESTAÇÃO HABITUAL DE HORAS EXTRAORDINÁRIAS. TRABALHO NOS DIAS DESTINADOS À COMPENSAÇÃO. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA Nº 85 DO TST. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL INESPECÍFICA. SÚMULA Nº 296, ITEM I, DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. 1. É inaplicável a orientação inserta na Súmula n.º 85 do Tribunal Superior do Trabalho no caso em exame, em que não havia efetiva compensação de jornada em razão da existência de labor aos sábados, dias destinados à compensação. 2. Afigura-se inviável o conhecimento dos embargos, por divergência jurisprudencial, quando inespecíficos os arestos trazidos à colação, nos termos da Súmula n.º 296, I, do Tribunal Superior do Trabalho. 3. Recurso de embargos não conhecido. (E-RR-1185-06.2010.5.09.0242, Relator Ministro: Lelio Bentes Corrêa, Data de Julgamento: 07/05/2015, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 15/05/2015)

Logo, revelando a decisão do Tribunal Regional consonância com a jurisprudência iterativa e notória desta Corte Superior, a pretensão recursal não se viabiliza também sob o prisma do dissenso pretoriano, nos termos do art. 896, § 7º, da CLT
Ante o exposto, NÃO CONHEÇO do recurso de revista, no particular.

1.2. CONTRATO DE TRABALHO TEMPORÁRIO. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO MOTIVO JUSTIFICADOR (ART. 9º, II, DA LEI Nº 6.019/74). DEFICIÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE

Em relação ao tema em epígrafe, o Tribunal Regional negou provimento ao recurso ordinário interposto pela segunda reclamada mediante os seguintes fundamentos, verbis:

A. Contrato temporário - Validade
Pretende a reclamada afastar o vínculo empregatício relativo ao período de 08/07/2008 a 11/12/2008, e as verbas trabalhistas decorrentes.
Não lhe assiste razão.
A reclamante foi contratada pela primeira ré -- Velox Recursos Humanos Ltda. -- em 08/07/2008, para laborar nas dependências da segunda reclamada -- Votorantim Cimentos S/A --, tendo, tal contrato, perdurado até 11/12/2008. Em 12/12/2008 a segunda ré -- Votorantim Cimentos S/A -- contratou diretamente a autora, rescindindo o pacto laboral em 1º/10/2009.
Cinge-se, a controvérsia, ao primeiro pacto laboral (08/07/2008 a 11/12/2008), tendo a reclamante alegado a existência de fraude na contratação por empresa interposta, postulando o vínculo empregatício diretamente com a segunda ré-- Votorantim Cimentos S/A.
Nos termos do artigo 2º da Lei nº 6019/1974, "Trabalho temporário é aquele prestado por pessoa física a uma empresa, para atender à necessidade transitória de substituição de seu pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de serviços". Ou seja, são duas hipóteses de possibilidade de adoção de trabalho temporário: 1) substituição de pessoal regular e permanente da empresa tomadora; e 2) acréscimo extraordinário de serviços. 
Ademais, o artigo 9º da Lei nº 6.019/1974 exige que o contrato entre a empresa de trabalho temporário e a empresa tomadora de serviço ou cliente mencione, expressamente, o motivo justificador da demanda de trabalho temporário, não sendo, tal requisito, observado na hipótese dos autos (fls. 209/216).
Diante do exposto, inexiste violação aos dispositivos mencionados pela parte, os quais já se considera devidamente prequestionados: inciso LV, do art. 5º da CF; Lei nº 6.019/74; Decreto nº 73.841/74; Súmula nº 331, I do C. TST.
MANTENHO.

Nas razões do recurso de revista, a reclamada alega que "havia regular contrato celebrado entre a Votorantim e a empresa de serviços temporários Velox. Em decorrência deste contrato a empresa Velox disponibilizaria empregados seus para prestarem serviços na Votorantim, na qualidade de temporários, enquanto houvesse necessidade da ora reclamada". Aduz não haver nos autos "qualquer prova da limitação do período de prestação de serviços da autora à Votorantim, ônus que caberia à obreira provar". Afirma que "se houve descumprimento dos limites impostos pela Lei 6.019/74, este ocorreu pela Velox, devendo portanto ser declarado o vínculo pelo período de 08/07/2008 à 11/12/2008, diretamente com esta reclamada (VELOX)". Requer seja excluído da condenação, o vínculo declarado pelo período de 08/07/2008 a 11/12/2008. Indica violação dos arts. 818 da CLT e 333 do CPC/73, além de contrariedade à Súmula nº 331 do TST.
O recurso não alcança conhecimento.
Em relação à alegação de não haver nos autos "qualquer prova da limitação do período de prestação de serviços da autora à Votorantim, ônus que caberia à obreira provar", cumpre observar que o fundamento do acórdão regional não guarda pertinência com o período da contratação, mas com a ausência, no contrato firmado entre as empresas, do motivo justificador da demanda de trabalho temporário.
Nesse contexto, constata-se que a segunda reclamada, a despeito de atribuir eventual irregularidade ao contrato firmado entre a reclamante e a primeira reclamada, não impugna o fundamento nuclear da decisão regional, no sentido de que o contrato celebrado por ela e a empresa de trabalho temporário não observou o disposto na Lei nº 6.019/74 (art. 9º, II), quanto à necessidade de indicação expressa do "motivo justificador da demanda de trabalho temporário".
Dessa forma, não observado o pressuposto da regularidade formal (princípio da dialeticidade), mostra-se pertinente, como óbice à revisão pretendida, a incidência da diretriz traçada no item I da Súmula nº 422 desta Corte Superior, verbis:

RECURSO. FUNDAMENTO AUSENTE OU DEFICIENTE. NÃO CONHECIMENTO (redação alterada, com inserção dos itens I, II e III) - Res. 199/2015, DEJT divulgado em 24, 25 e 26.06.2015. Com errata publicado no DEJT divulgado em 01.07.2015.
I - Não se conhece de recurso para o Tribunal Superior do Trabalho se as razões do recorrente não impugnam os fundamentos da decisão recorrida, nos termos em que proferida.

Ressalte-se, ainda, que é pacífica a jurisprudência dos Tribunais Superiores (STF, STJ e TST), no exame de recursos de fundamentação vinculada, no sentido de que o recurso que se encontra deficiente de fundamentação não reúne condições de ser admitido, sendo defeso ao Relator suprir deficiência na fundamentação do recurso, cuja responsabilidade é inteiramente da parte recorrente (Súmula 284 do STF).
Ante o exposto, NÃO CONHEÇO ao recurso de revista adesivo.

1.3. ENVIO DE E-MAIL COM CONTEÚDO PORNOGRÁFICO. DISPENSA POR JUSTA CAUSA. EXCESSO NA PUNIÇÃO. PROPORCIONALIDADE. MATÉRIA FÁTICA

Em relação ao tema em epígrafe, o Tribunal Regional negou provimento ao recurso ordinário interposto pela segunda reclamada mediante os seguintes fundamentos, verbis:

B. Justa causa
Busca a reclamada afastar a reversão da justa causa.
Aduz que: a) a reclamante confessou que recebeu, abriu e encaminhou e-mail com conteúdo pornográfico durante o horário de trabalho, utilizando o computador da empresa; b) a reclamante tinha ciência de que tal atitude era proibida, constando tal proibição no Código de Conduta da Votorantim.
Razão não lhe assiste.
Na rescisão contratual motivada, por parte do empregador, a falta deverá revestir-se de gravidade tal que justifique esse ato, de forma que impossibilite a continuação da relação de emprego, constituindo-se, assim, em uma das infrações elencadas no art. 482, da CLT.
Na hipótese, a reclamante foi despedida por justa causa por haver enviado e-mail a duas colegas de trabalho -- Sras. Heloisa de Souza Pinto e  Priscila Afonso Nunes -- sob o título "Pinto dos Famosos".
A reclamante aduziu, em interrogatório (fl. 319), que:
"3) quando da demissão foi esclarecido que isto estava ocorrendo porque a depoente recebera e abrira um e-mail com conteúdo pornográfico, fato esse que a depoente não nega, sendo que a depoente apenas se opõe à justa causa porque nunca havia sido advertida com relação a isso, e porque sequer chegou a abrir o conteúdo do e-mail; 4) esclarece que não abriu o e-mail com conteúdo pornográfico, mas que o encaminhou para as duas colegas referidas no processo que também eram empregadas da 2ª ré; (...); 9) que tinha conhecimento das políticas da empresa que incluíam não encaminhar e-mail com conteúdo racista, discriminatório, pornográfico, esclarecendo que, na verdade, a política da empresa era para que não buscassem esse conteúdo na rede, tendo acessos a esse tipo de conteúdo, e não quanto ao encaminhamento de e-mail dessa espécie; 10) tinha conhecimento que, pela violação dessa política da empresa, seria passível de demissão por justa causa, mas ainda assim acredita que não no seu caso, em que foi a primeira vez, sem advertência prévia".
A testemunha inquirida em Juízo a convite da reclamante -- Sr.ª  Paula Cristina Pecuch Ikoma (fls. 320/321) -- alegou, ao depor:
"5) que no período em que trabalhou para a 2ª ré recebeu dois informativos quanto ao uso do fax, impressora, e-mail, mas que na prática todos usavam o e-mail da empresa para fins particulares, e que isso era corrente; 6) que não havia uma proibição propriamente do uso de e-mail para fins particulares, e que às vezes, quando alguém recebia um poema por exemplo, reencaminhava para os demais colegas; 7) que na 2ª ré, afora a reclamante, ninguém foi demitido pelo uso do e-mail para fins particulares, tendo ciência que a autora foi desligada por esse motivo, nos termos já incontroversos".
Finalmente, a testemunha trazida a Juízo a convite da ré -- Sr.ª  Rosilene Trinkel (fl. 321) -- aduziu:
"1) é empregada da 2ª ré desde maio/2008, sempre como supervisora, e que nesse período vários empregados foram demitidos por justa causa pelo uso indevido do e-mail; 2) Pirri, que era coordenador, foi um dos demitidos nessa condição, não se lembrando de outros nomes até porque, ante a justa causa, os casos não são de conhecimento geral; 3) que não há nenhuma proibição quanto ao uso de e-mails para fins particulares se o conteúdo do e-mail for adequado, sendo vedado os conteúdos já referidos antes e as correntes". 
 Denota-se, assim, que restou incontroverso ter ocorrido o fato ensejador da justa causa, bem como, que a reclamante tinha conhecimento da proibição quanto ao envio de e-mails de conteúdo pornográfico.
Entretanto, não se constitui em falta grave a ponto de justificar a dispensa motivada - alínea "h" do art. 482 da CLT (ato de indisciplina ou insubordinação) -, havendo desproporcionalidade entre a conduta da autora e a falta aplicada
Conforme bem observou o MM. Juízo de primeiro grau (fl. 325), "A rescisão por justa causa é a pena máxima aplicável a qualquer empregado, e como tal deve ser aplicada com parcimônia e ponderação, e não por qualquer infração contratual.
O conteúdo do e-mail não continha cenas de sexo. Continha, como o título indica, fotos de 'pênis'. Embora o conteúdo do e-mail possa não agradar e até ofender, o fato é que a autora não o encaminhou para uma lista de pessoas, mas sim para duas colegas do seu círculo íntimo. Não estava 'propagando' material pornográfico indiscriminadamente para todos os colegas da empresa. E vale observar que o e-mail só foi aberto no local de trabalho pela destinatária porque a supervisora assim determinou (fl. 224).
Além do que, pode-se sustentar até mesmo que tal e-mail não tinha cunho efetivamente sexual, representando verdadeira sátira. Isso não lhe retira, gize-se, a inadequação. Tanto no que diz respeito ao uso da rede da VOTORANTIM para o encaminhamento, como o fato de ter sido encaminhado, e aberto, no ambiente de trabalho".
Por conseguinte, entendo que os reclamados agiram com excessivo rigor, não merecendo reforma a r. decisão.
MANTENHO.

Nas razões do recurso de revista, a reclamada alega que a justa causa foi devidamente aplicada. Aduz que "os atos de incontinência de conduta, mau procedimento, desídia, indisciplina e insubordinação, cometidos no exercício de suas funções restaram corroborados através dos depoimentos prestados nos autos, além dos documentos juntados, tais como a cópia do e-mail e arquivo enviados pela reclamante a suas colegas de trabalho". Transcreve documentos e trechos de depoimentos apresentados na instrução processual, inclusive para demonstrar que a reclamante confessou que "recebeu, abriu e encaminhou e-mail com conteúdo pornográfico, do computador da empresa no horário de trabalho e que estava ciente que isto era proibido". Argumenta que "a reclamante descumpriu várias normas da empresa, em especial à Política de Segurança, ao receber, abrir e encaminhar e-mail com o conteúdo pornográfico, no/do computador da empresa por correio eletrônico". Indica violação dos arts. 482, "a", "e" e "h" da CLT. Transcreve arestos para o confronto de teses.
O recurso não alcança conhecimento.
O Tribunal Regional, valorando fatos e provas, concluiu que, a despeito da inadequação da conduta da reclamante (envio de um único e-mail com conteúdo pornográfico a duas colegas de trabalho que pertenciam ao seu ciclo íntimo), os reclamados agiram com rigor excessivo, havendo desproporcionalidade entre a conduta e a falta aplicada. 
Nesse contexto, registrou o acórdão que "o conteúdo do e-mail não continha cenas de sexo. Continha, como o título indica, fotos de 'pênis'. Embora o conteúdo do e-mail possa não agradar e até ofender, o fato é que a autora não o encaminhou para uma lista de pessoas, mas sim para duas colegas do seu círculo íntimo. Não estava 'propagando' material pornográfico indiscriminadamente para todos os colegas da empresa. E vale observar que o e-mail só foi aberto no local de trabalho pela destinatária porque a supervisora assim determinou".
Diante das premissas fáticas delineadas pela decisão recorrida, insuscetíveis de reexame nesta fase recursal, nos termos da Súmula nº 126 do TST, tem-se que o Tribunal Regional, ao manter a decisão que afastou a justa causa, utilizou como fundamento nuclear o princípio da proporcionalidade entre a gravidade da falta cometida pelo empregado e a pena aplicada, não se divisando, portanto, afronta ao art. 482, "a", "e" e "h", da CLT.
Em relação aos arestos colacionados ao dissenso de teses, são inservíveis ao conhecimento do recurso de revista aqueles oriundos do mesmo Tribunal Regional (TRT da 9ª Região) que proferiu a decisão recorrida, nos termos da Orientação Jurisprudencial nº 111 da SBDI-1 do TST. Os demais arestos são inespecíficos, nos termos da Súmula nº 296, I, do TST, na medida em que nenhum deles guarda identidade com as premissas fáticas destes autos, não discutindo a matéria sob a ótica da aplicação do princípio da proporcionalidade. Tampouco replicam quaisquer das particularidades (elementos de fato) que influíram na formação da convicção do julgador quanto à desproporcionalidade da punição aplicada, a exemplo do fato de que o acórdão não registra ter a reclamante aberto o e-mail no ambiente de trabalho, mas tão somente o enviado para duas colegas do seu ciclo íntimo (não se tratando de divulgação indiscriminada de material pornográfico), e de que o e-mail não continha cenas de sexo, só tendo sido aberto no local de trabalho pela destinatária porque a supervisora assim determinou.
Ante o exposto, NÃO CONHEÇO do recurso de revista, no particular.

1.4. IMPOSTO DE RENDA. CRITÉRIO DE CÁLCULO

Em relação ao tema em epígrafe, o Tribunal Regional negou provimento ao recurso ordinário interposto pela segunda reclamada mediante os seguintes fundamentos, verbis:

       C. Imposto de renda
Almeja a reclamada a retenção fiscal sobre o total da condenação, com a incidência sobre os juros de mora.
Não lhe assiste razão.
A r. sentença já determinou a incidência sobre os juros de mora (fl. 327-verso), não havendo sucumbência da ré quanto a este aspecto.
Ademais, modificando posicionamento antes adotado, esta e. Turma entende que o "quantum" a ser retido na fonte, a título de imposto de renda, deve ser calculado mês a mês.
Adoto como fundamento o entendimento do Exmo. Des. Relator ARNOR LIMA NETO:
"Modificando entendimento anterior, passo a adotar, como critério para cálculo da incidência do imposto de renda, as tabelas e alíquotas das épocas próprias, ou seja, na forma mensal e não mais global.
Tal alteração se faz necessária na medida em que o Ministro da Fazenda, recentemente, decidiu que nas "Ações judiciais que visem obter a declaração de que, no cálculo do imposto de renda incidente sobre rendimentos pagos acumuladamente, devem ser levadas em consideração as tabelas e alíquotas das épocas próprias a que se referem tais rendimentos, devendo o cálculo ser mensal e não global" (DOU 13/05/2009), de modo a vincular a Fazenda Nacional, que a partir de então deixa de interpor recursos ou até mesmo desiste dos já interpostos.
Referida conclusão já era adotada pelo Superior Tribunal de Justiça (Resp 42425/SC - DJ 19/12/2003; Resp 505081/RS - DJ 31/05/2004; Resp 1075700/RS - DJ 17/12/2008; AgRg no REsp 641.531/SC - DJ 21/11/2008 e Resp 901.945/PR - DJ 16/08/2007).
Diante dessa mudança de entendimento da Fazenda Nacional, que rebatia fortemente o modo de incidência mensal e, na disposição de uniformizar entendimento com o Superior Tribunal de Justiça, determino que o imposto de renda deva incidir na forma mensal, respeitando as alíquotas respectivas."
MANTENHO.

Nas razões do recurso de revista, a segunda reclamada alega que "como se trata de ação trabalhista e existe imposição legal, não pode esta Justiça Especializada determinar a apuração dos valores devidos mês à mês, pois à época em que houve a prestação de serviços as parcelas não eram devidas". Sustenta que "não há como determinar a apuração das parcelas fiscais mês a mês, ante a inexistência de dispositivo legal que determine e por não ser da competência da Justiça do Trabalho legislar, tampouco sobre matéria tributária". Aduz que "a disponibilidade dos valores ocorrerá de uma vez só, e não mensalmente. Portanto, não há como se considerar a forma requerida pelo recorrente, porquanto a lei determina expressamente que a retenção será feita no momento em que o rendimento se torne disponível". Indica violação dos arts. 5º, II, e 114, da Constituição Federal, 43 da Lei nº 8.212/91, 46 da Lei nº 8.541/92, além de contrariedade ao item II da Súmula nº 368 do TST.
O recurso não alcança conhecimento.
Na hipótese, o Tribunal Regional determinou a incidência do imposto de renda mensal, observadas as alíquotas respectivas.
A atual, iterativa e notória jurisprudência desta Corte Superior, à luz do art. 44 da Lei nº 12.350/2010, que acresceu o art. 12-A na Lei nº 7.713/1988, e da Instrução Normativa nº 1.127/2011 da Receita Federal do Brasil, firmou-se no sentido de reconhecer que o critério para apuração do imposto de renda devido em decorrência de parcelas constantes em decisão judicial passou a ser o do mês da competência, ou seja, aquele em que o crédito deveria ter sido pago, de modo que os descontos fiscais devem ser apurados mês a mês.
Tais fundamentos justificaram a alteração do item II da Súmula nº 368 do TST, na sessão do Tribunal Pleno realizada em 16/4/2012, estabelecendo-se que a incidência dos descontos fiscais deve ser calculada mês a mês, nos termos do art. 12-A da Lei nº 7.713, de 22/12/1988. Vejamos:

DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS. COMPETÊNCIA. RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO. FORMA DE CÁLCULO (redação do item II alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 16.04.2012) - Res. 181/2012, DEJT divulgado em 19, 20 e 23.04.2012
[...]
II - É do empregador a responsabilidade pelo recolhimento das contribuições previdenciárias e fiscais, resultante de crédito do empregado oriundo de condenação judicial, devendo ser calculadas, em relação à incidência dos descontos fiscais, mês a mês, nos termos do art. 12-A da Lei nº 7.713, de 22/12/1988, com a redação dada pela Lei nº 12.350/2010.

Verifica-se, portanto, que a Corte Regional, ao entender que os descontos fiscais devem ser calculados mês a mês, decidiu em consonância com súmula de jurisprudência desta Corte Superior, pelo que a pretensão recursal não se viabiliza, ante os termos do art. 896, § 7º, da CLT. Afastada, em consequência, a violação dos dispositivos de lei e da Constituição Federal indicados. Superada, ainda, a alegada contrariedade ao item II da Súmula nº 368.
Ante o exposto, NÃO CONHEÇO do recurso de revista, no particular.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, não conhecer do recurso de revista.


Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)
Walmir Oliveira da Costa
Ministro Relator